Com duração de dois anos, na APAE de Mogi das Cruzes, iniciativa foi idealizada e coordenada pela cirurgiã buco-maxilo-facial Náthali La Blanca
O voluntariado é um ato de amor e doação ao próximo. Os cirurgiões-dentistas que dedicam parte de suas vidas ao atendimento voluntário conseguem transformar realidades e sorrisos de pessoas em situação de vulnerabilidade. Em razão da importância social, a APCD Regional Mogi das Cruzes incluiu a categoria “Odontologia Solidária” no prêmio Melhores do Ano. O projeto Boca Feliz foi o grande vencedor da edição de 2024, repetindo o resultado do ano anterior.
O Boca Feliz foi realizado pelo período de dois anos, garantindo tratamento odontológico gratuito a pessoas com deficiência, com idade entre 3 e 30 anos, que passam por atendimento na APAE de Mogi das Cruzes. Ao longo de 24 meses de execução do projeto, um total de 470 pacientes foram beneficiados pelo projeto.
A ação voluntária foi idealizada e coordenada pela cirurgiã-dentista Náthali La Blanca, especialista em Cirurgia Buco-Maxilo-Facial. Ela construiu sua carreira alicerçada pelo propósito de ajudar ao próximo, na certeza de que seu conhecimento poderia fazer a diferença na vida das pessoas. Náthali La Blanca e as demais cirurgiãs-dentistas que participaram do projeto Boca Feliz receberam o troféu do Melhores do Ano 2024, no dia 4 de outubro, durante a Festa Dia do Dentista.
Na entrevista abaixo, a cirurgiã-dentista conta um pouco sobre sua trajetória profissional e sua relação com a Odontologia Solidária. Confira!
O projeto Boca Feliz, idealizado e coordenado por você, foi o grande vencedor da categoria Odontologia Solidária, no prêmio Melhores do Ano, promovido pela APCD-RMC. Qual a sensação de ganhar a premiação?
Receber o Prêmio de Odontologia Solidária pelo segundo ano consecutivo é uma imensa honra e uma grande emoção. Esse reconhecimento reflete o esforço e a dedicação de toda a equipe que trabalhou comigo no projeto, além de reforçar a importância de contribuir para a saúde e o bem-estar das pessoas com deficiência intelectual e múltipla. É gratificante ver que nossa missão de oferecer um atendimento odontológico humanizado e de qualidade fez a diferença na vida de muitos dos nossos pacientes.
Este prêmio vem coroar sua importante trajetória profissional, marcada pelo voluntariado e a solidariedade na Odontologia. Qual, em sua opinião, é a importância do cirurgião-dentista realizar ações de voluntariado?
Este prêmio, de fato, vem coroar uma trajetória construída com base na assistência a pessoas com deficiência intelectual e múltipla, uma classe que realmente necessita de cuidados específicos. Na minha opinião, o cirurgião-dentista tem um papel crucial ao realizar ações de voluntariado, pois pode oferecer cuidados essenciais de saúde bucal a populações que, muitas vezes, não têm acesso a esses serviços. Através do voluntariado, é possível promover a prevenção de doenças, melhorar a qualidade de vida e resgatar a autoestima dos pacientes, além de praticar empatia e fortalecer o compromisso social da nossa profissão. Contribuir com a comunidade vai além da técnica; é uma forma de retribuir e impactar positivamente a sociedade.
Como foi o início da sua carreira? Como iniciou as ações solidárias?
Sou cirurgiã buco-maxilo-facial, formada pela Universidade Braz Cubas em 2016. O projeto Boca Feliz começou a partir de uma demanda trazida pela APAE de Mogi das Cruzes, que evidenciou a necessidade de atendimento odontológico especializado para pessoas com deficiência intelectual e múltipla. Em 2019, começamos a desenvolver o projeto, que foi aceito e financiado pelo PRONAS, através de contribuição fiscal. Com essa parceria, conseguimos a verba para dois anos de execução, o que permitiu realizar um número significativo de atendimentos e melhorar a qualidade de vida de muitos pacientes.
Conte sobre sua trajetória dentro do voluntariado até aqui. É uma jornada gratificante?
Minha trajetória no voluntariado tem sido extremamente gratificante e transformadora. Desde o início da minha carreira como cirurgiã dentista, sempre tive o desejo de usar meu conhecimento e habilidades para ajudar aqueles que não têm fácil acesso a cuidados de saúde bucal. O voluntariado nos permite fazer isto.
Ao longo dos anos, participei de diversas ações solidárias, começando com pequenos atendimentos em ações voluntárias da faculdade, até a criação de projetos, como o Boca Feliz, que foi um marco na minha jornada. Esse projeto me mostrou o impacto profundo que um atendimento odontológico humanizado pode ter na vida de pessoas com deficiência intelectual e múltipla, algo que, por vezes, vai muito além da saúde física.
Cada atendimento, cada sorriso recuperado, reforça em mim o valor da transformação na vida dos pacientes, sendo um lembrete constante de que nosso trabalho pode fazer a diferença. É uma jornada que, sem dúvida, exige dedicação e esforço, mas que traz uma realização pessoal e profissional que vai além de qualquer reconhecimento material. É, de fato, uma das experiências mais enriquecedoras da minha vida.
Para você, como a Saúde Bucal pode transformar a vida das pessoas?
A saúde bucal transforma vidas ao influenciar diretamente o bem-estar físico, emocional e social das pessoas. Uma boa saúde bucal previne doenças como cáries, gengivites e infecções, que podem evoluir para problemas mais graves, afetando a saúde geral do corpo. Além disso, um sorriso saudável melhora a autoestima, favorecendo a confiança nas interações sociais e profissionais. Quando as pessoas cuidam da sua boca, elas melhoram sua qualidade de vida, têm mais facilidade para se alimentar, falar e se relacionar, resultando em maior felicidade e produtividade.
Muitas pessoas querem ajudar o próximo, mas não sabem como. Qual a dica que você daria para os cirurgiões-dentistas que desejam ser voluntários?
O cirurgião-dentista que deseja ser voluntário deve, primeiramente, procurar um projeto ou instituição cujos valores estejam alinhados ao seu, onde possa realmente fazer a diferença. E nem precisamos ir longe, pois existem muitos projetos próximos a nós que necessitam de ajuda e parceria com cirurgiões-dentistas.
Outro ponto importante é estar preparado para o novo, já que o voluntariado exige paciência, flexibilidade, improvisação e, acima de tudo, equilíbrio emocional e amor ao próximo.
Vale lembrar que, ao contribuir com seu talento e se dispor a ajudar outras pessoas, o cirurgião-dentista não apenas transforma vidas, mas, ainda mais, transforma a si próprio.
Conte como decidiu se tornar um cirurgião-dentista?
Eu escolhi ser cirurgiã-dentista a partir de um desejo de trabalhar no terceiro setor, com o objetivo de ajudar o próximo. Esse propósito de vida surgiu antes mesmo de eu ingressar na faculdade. A odontologia se tornou o caminho ideal para realizar esse sonho, especialmente porque sempre tive o desejo de atuar em comunidades como as do Xingu, onde eu poderia utilizar meu conhecimento para fazer a diferença. Desde o início, sempre me vi na posição de alguém que oferece auxílio e cuidado às pessoas, e essa motivação tem guiado minha trajetória.
Qual o significado da Odontologia em sua vida?
Para mim, o significado da odontologia vai muito além de simplesmente ajudar o próximo. Hoje, vejo que a Odontologia tem o poder de transformar vidas de diversas maneiras. Além do trabalho com projetos sociais e a odontologia solidária, como cirurgiã buco-maxilo-facial, consigo impactar diretamente a vida das pessoas por meio de cirurgias, especialmente em momentos de grande fragilidade. Atuar nessas duas frentes — social e cirúrgica — não só enriquece minha prática profissional, mas também me transforma profundamente como pessoa.